Há
muito se acredita que excesso de peso e vida sedentária são fatores de
risco para a instalação do diabetesno adulto (tipo 2). Em 1991, um
estudo conduzido na Suécia demonstrou que mudanças nos hábitos alimentares
e a prática de atividade física podem retardar o aparecimento do
diabetes em pessoas predispostas à doença. Em 1997, uma
pesquisa desenvolvida na China mostrou resultados semelhantes. Esses
estudos, no entanto, foram criticados por falhas metodológicas, e a
maioria dos autores admitia que a relação entre estilo de vida e
instalação de diabetes no adulto estava por ser
demonstrada definitivamente.
Pesquisadores do Grupo Finlandês de
Prevenção do Diabetes publicaram recentemente um estudo que constitui a
mais completa demonstração de que a instalação do diabetes no adulto pode
ser retardada, ou mesmo evitada, às custas de intervenções dietéticas e
aumento da atividade física. Os autores estudaram 523 mulheres e homens
entre 40 e 65 anos, com excesso de peso, que apresentavam o que chamamos
de tolerância diminuída à glicose (que muitos chamam
inadequadamente de pré-diabetes). Para caracterizar uma pessoa nesta
categoria, ela precisa ter uma taxa de glicose no sangue abaixo de 140 (miligramas por
decilitro), quando determinada pela manhã, em jejum, mas essa concentração
deve subir para a faixa de140 a 200, após a administração de 75 gramas de
glicose.
Os participantes foram divididos ao
acaso em dois grupos: Intervenção e Controle. No grupo Controle, os
indivíduos receberam apenas um folheto de duas páginas com informações
sobre a necessidade de adotarem uma dieta saudável e praticarem
exercícios físicos. Fora essa orientação rotineira, nenhum programa
individualizado foi oferecido.
Aos do grupo Intervenção, ao
contrário, foi dada orientação personalizada sobre os objetivos a serem
alcançados com as mudanças no estilo de vida: perder 5% ou mais do
peso corpóreo, reduzir o consumo de gordura para menos de 30% do
total de calorias ingeridas diariamente, consumir mais de 15g de fibras
para cada 1000 kcal ingeridas e praticar pelo menos 30 minutos de
exercícios físicos de intensidade moderada por dia.
Ao contrário do folheto com as
orientações impessoais entregue ao grupo Controle, no grupo Intervenção os
participantes receberam periodicamente orientações dietéticas dadas
por nutricionistas e programas de treinamento físico individualizados.
Os autores usaram os critérios da
Organização Mundial da Saúde para caracterizar a instalação de
diabetes na população estudada: glicemia de jejum acima de 140, ou
aumento para mais de 200 depois da administração das 75g de glicose.
No período de novembro de 1993 a junho
de 1998, desenvolveram diabetes 86 participantes: 59 pertenciam ao grupo
Controle e 27, ao grupo Intervenção. O aconselhamento dietético
periódico e a orientação personalizada para a prática de exercícios
resultaram numa redução de 58% no número de casos da enfermidade.
Anualmente, no grupo Controle, 6% dos
participantes desenvolveram a doença, contra 3% no grupo Intervenção.
Enquanto no grupo Intervenção a perda
média de peso foi de 4,2kg, no Controle esse número caiu para 0,8kg.
Individualmente, quanto maior a perda de peso obtida, mais baixa a
probabilidade de instalação da doença.
A ingestão crônica de um número de
calorias diárias acima do total que o organismo consegue consumir, que
resulta na obesidade e facilita a instalação do diabetes, depende da
interação de fatores genéticos e ambientais. O estudo finlandês
deixa claro que as pessoas com excesso de peso e
predisposição genética podem interferir com a história natural da
instalação do diabetes, às custas da redução do número de calorias
ingeridas diariamente e do aumento da atividade física.
Projeções da OMS mostram que, nas
sociedades industriais, 6% dos habitantes são portadores de diabetes. A
demonstração de que essa incidência pode ser reduzida por mudanças do estilo de
vida é um alento, especialmente para aqueles que têm
familiares próximos com a doença e suas complicações vasculares: perda de visão,
insuficiência renal, infarto do miocárdio, derrame cerebral, impotência sexual
e tantas
outras.
Estão sendo aguardados, com ansiedade,
para o final deste ano, os resultados da evolução de 3000 homens e mulheres com
tolerância diminuída à glicose, que participam do “Diabetis Prevention
Program”, estudo americano que os divide em três grupos: Controle (recebem
as recomendações rotineiras de mudanças no estilo de vida),
Intervenção (programas individualizados de alterações dietéticas e
prática de exercícios) e Intervenção Farmacológica (administração diária
preventiva de uma droga, a metformina).
Publicado em 07/04/2011.
Revisado em
06/10/2016
Fonte: https://drauziovarella.com.br/drauzio/artigos/atividade-fisica-habitos-alimentares-e-diabetes/