Refletir sobre os impactos da pandemia de
Covid-19 na sociedade e a repercussão dessas transformações nos próximos anos é
o objetivo da série Vida pós-pandemia. Na última
semana, pesquisadores da Universidade lançaram um olhar sobre as implicações da
crise sanitária na
comunicação e nos negócios. Agora, o foco do debate é a digitalização da saúde
pública e a importância da saúde mental da população. Confira!
Na medicina, a pandemia acentuou as tensões
entre o profissionalismo médico e o bem-estar dos profissionais da saúde. Para
os professores Alexandre Padoin e Thiago Viola, da Escola de Medicina
, o contexto atípico impôs demandas fundamentais
e obrigatórias em sistemas de saúde já sobrecarregados (sobretudo com falta de
recursos materiais, de insumos e de mão-de-obra), testou médicos e
profissionais de saúde até os limites da competência profissional e causou um
impacto considerável na saúde e bem-estar físico e mental de cada um.
Frente às medidas de distanciamento, uma
série de especialidades precisaram se adaptar rapidamente à telemedicina
(atendimento médico online). A modalidade expandiu o desenvolvimento tecnológico
de comunicação, diagnóstico e tratamento dos pacientes, possibilitando,
inclusive, que o ensino da medicina e o treinamento de profissionais ocorressem
a distância.
“Para o futuro há uma necessidade de
combinação de trabalho em equipe aprimorado, redução de encargos
administrativos, preparação otimizada organizacional e cada vez mais ênfase no
desenvolvimento científico e tecnológico”, aponta Alexandre Padoin.
Para além do tempo recorde no desenvolvimento de vacinas
de RNA mensageiro, os pesquisadores também
salientam o avanço dos algoritmos de inteligência artificial, capazes de
identificar e rastrear a disseminação do novo coronavírus, predizendo locais
geográficos de alto risco. Nesse sentido, segundo Thiago Viola, “o
futuro da saúde pública tende a se tornar cada vez mais digital, incluindo o
alinhamento de estratégias internacionais para a regulamentação, avaliação e
uso de tecnologias digitais para fortalecer a gestão de crises futuras”.
Sobre os impactos da Covid-19 na saúde da
população, os professores destacam que as principais implicações negativas em
adultos incluem o aumento de sintomas de fadiga crônica, sofrimento
psicológico, problemas de sono, sintomas de depressão e ansiedade. É importante
considerar também que pesquisas apontam que os fatores de risco para
os sintomas acima são “ser do sexo feminino, apresentar preocupações com a
família, medo de infecção, contato próximo com a Covid-19, sentimento de luto
e/ou ter sofrido algum impacto socioeconômico familiar, como perda de
emprego.
Em relação ao comportamento da sociedade
sobre a saúde pública, os pesquisadores Alexandre e Thiago afirmam que alguns
laboratórios de pesquisa já estão mapeando o que foi mais efetivo em termos de
cuidados sanitários, visando a futura prevenção.
“A construção de sociedades resilientes deve
incluir a mudança comportamental de toda a população, bem como a redução das
desigualdades socioeconômicas. A incorporação de comportamentos nas sociedades
requer mudanças nos ambientes físicos e sociais, como a promoção de locais de
trabalho seguros e normas sobre condutas de higiene. Estes espaços precisam ser
sustentados pela ativação da comunidade, regulamentação da organização e
legislação nacional”, ressaltam.
Sobre os impactos da pandemia na saúde mental da
população, a professora destaca uma série de efeitos. O medo da
contaminação, a ansiedade com relação ao desempenho nos múltiplos papéis que as
pessoas tiveram que conciliar (como trabalhar, cuidar de casa, auxiliar os
filhos com ensino remoto, entre outros), o aumento nos níveis de depressão e
ansiedade, além do aumento da violência doméstica e suas consequências, são
alguns deles. Além disso, aumentaram as incertezas relacionadas ao
futuro – seja no âmbito profissional, econômico ou de saúde – especialmente
entre as pessoas que se encontravam em situações mais vulneráveis antes da
pandemia.
Mesmo entre pessoas percebidas como
saudáveis, observaram-se sintomas de definhamento (sensação de estagnação,
vazio, abatimento) após tantos meses de isolamento. Para driblar medos e
inseguranças, Manoela alerta para a importância de manter os cuidados como o
uso de máscara e de álcool em gel, e evitar as aglomerações.
“Uma dica também é a prática
de mindfulness (exercício de atenção plena no momento presente), para
aqueles com dificuldade de concentração ou ansiedade. Também será preciso
renegociar limites e tarefas do dia a dia conforme uma maior presencialidade vai
sendo inserida na rotina. Além disso, é muito importante buscar ajuda quando a
ansiedade ou sentimentos negativos se tornam muito fortes”,
completa.
Embora desconfortáveis, o medo e a
insegurança ajudam as pessoas a estarem alerta para o risco que permanece.
Buscar conforto e diálogo com pessoas próximas e queridas pode ajudar a lidar
com os sentimentos negativos; e manter os níveis de atenção e dedicação na
realização das tarefas pode contribuir com a sensação de êxito e
autonomia.
Essas ações não irão eliminar o medo, mas
certamente serão úteis para a adaptação durante o retorno das atividades
presenciais. “Ainda temos um caminho a ser percorrido e cada um tem um
importante papel de manter os cuidados e proteger a si e aos demais”,
finaliza.
Fonte: https://www.pucrs.br/blog/vida-pos-pandemia-reflexoes-sobre-a-saude-publica-e-o-bem-estar-mental/